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Tilted Axis Cranking (TAC)

O modelo de TAC é uma generalização do modelo de Cranking para uma rotação não necessariamente coincidente com um eixo principal do momento de inércia. O modelo foi formulado por S. Frauendorf [24], e permitiu uma interpretação mais adequada das bandas de alto-K [14](a projeção do momento angular no eixo principal de maior elongação da deformação nuclear), também ditas fortemente acopladas. As características típicas destas bandas são a presença de fortes transições dipolares magnéticas e ausência de signature splitting ou separação de energia intrínseca, entre estados de signature oposto. O número quântico de signature ($ \alpha$) está relacionado à simetria de rotação de um ângulo $ \pi$ ao redor do eixo menor de deformação, e é dado pela fórmula: $ I=\alpha$mod2. onde $ I$ é o spin do estado.

Um resultado inesperado do modelo é a previsão de bandas dipolares magnéticas com características rotacionais em núcleos quase-esféricos [28]. A figura [*] apresenta uma comparação entre a rotação magnética e a rotação usual de um núcleo com deformação quadrupolar. A condição para a existência de rotação é a quebra da isotropia na direção perpendicular ao momento angular total. No caso elétrico esta é devida à orientação do tensor de quadrupolo elétrico, e no magnético, à direção do vetor momento de dipolo magnético. No primeiro caso a radiação gerada pela rotação é do tipo quadrupolar elétrico (E2), que carrega duas unidades de momento angular, e no segundo, dipolar magnética (M1), que carrega uma unidade. A figura mostra casos experimentais típicos de um núcleo superdeformado e um núcleo quase esférico.

Figura: Rotação magnética versus elétrica

\includegraphics[%%
scale=0.7]{rmxreg.jpg}

O mecanismo de formação das bandas de rotação magnética é ilustrado na figura [*]. A distribuição de matéria de uma partícula corresponde à de um toróide com eixo na direção do vetor momento angular da partícula, enquanto que a de um buraco corresponde a uma ``cintura'' (a falta de um toróide). A maior superposição das distribuições de matéria corresponde ao acoplamento perpendicular dos momentos angulares de partícula e buraco. Esta é a configuração de mínima energia. À medida que os momentos angulares das duas entidades se alinham, cresce o momento angular e a energia de interação, gerando estados quânticos semelhantes a uma banda rotacional. O mecanismo é análogo ao de uma tesoura de tosa (shears), na qual as duas lâminas são interligadas por uma mola (à direita na fig. [*]). Por esta razão as bandas magnéticas são também conhecidas como shears bands [30,31,17,16,18]. As regiões de massa com as condições necessárias para formação destas bandas são aquelas próximas às camadas duplamente fechadas, sendo o número de prótons pouco superior e o de nêutrons pouco inferior a uma camada fechada ou vice versa. Assim, prótons e nêutrons de valência desempenham o papel das partículas ou buracos representados na ilustração. Como mencionado na seção anterior, bandas magnéticas já foram observadas em várias regiões de massa com estas características.

Figura: Mecanismo de shears. $ J_{\pi}$ e $ J_{\nu}$ representam os vetores momento angular das partículas de prótons e buracos de nêutrons, respectivamente. À direita, o fechamento de uma tesoura de tosa (shears) análogo ao alinhamento dos momentos angulares com acoplamento mútuo.

\includegraphics{shears.jpg}

Um outro resultado muito interessante do modelo de TAC é a previsão de bandas com configuração intrínseca quiral, em determinadas regiões de massa de núcleos triaxiais. As quasipartículas de valência de prótons e nêutrons também devem ter composições predominantes de partículas e de buracos, semelhantemente ao caso da rotação magnética, mas não tão próximo de camadas fechadas, e sim em regiões de transição onde aparecem núcleos triaxiais. A figura [*] mostra o acoplamento de momentos angulares que determina a quebra da simetria direita-esquerda. No núcleo triaxial, buracos de valência tendem a alinhar seu momento angular com o eixo principal de maior elongação, enquanto que as partículas, com o eixo de menor elongação. Como o momento de inércia irrotacional é maior para a rotação pelo eixo de elongação intermediária, esta tende a ser a direção favorável para o eixo de rotação coletiva. Os três momentos angulares, de partículas, buracos e coletivo, tendem a definir um conjunto de 3 eixos cartezianos coordenado, definindo uma quiralidade no sistema intrínseco. Como os três vetores são axiais, a paridade é uma simetria preservada. No entanto, duas configurações intrínsecas correspondentes à mão direita e esquerda são possíveis, e seriam idealmente degeneradas. Experimentalmente, esta previsão se verifica pela observação de um par de bandas dipolares magnéticas quase degeneradas. A existência de tunelamento entre as duas configurações permitiria a quebra dessa degenerescência, correspondendo a uma vibração quiral, análoga à já conhecida vibração octupolar [32].

Figura: Quiralidade em um núcleo triaxial. j$ _{p}$ e j$ _{b}$ representam os vetores momento angular de partículas e buracos, respectivamente. Abaixo, o acoplamento de mínima energia entre os três vetores gera uma configuração que quebra a simetria quiral. No exemplo, uma configuração de mão direita.

\includegraphics{quiral2.jpg}


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Roberto V. Ribas 2004-05-14